sexta-feira, 30 de maio de 2008

Eles ganharam o mundo!!!


Uma pequena homenagem ao Dois em Um - dupla de Salvador, formada por Luisão Pereira e Fernanda Monteiro, que acaba de ser contratada por um selo de Nova Jersey (EUA) e terá seu primeiro CD lançado em agosto em toda a América do Norte. A obra, produzida no aconchego do lar do casal, é repleta de grandes canções, que fazem minhas pálpebras se fecharem ao primeiro acorde e me conduzem imediatamente a um outro tempo, outra dimensão, em que tudo se passa de um jeito mais lento e, ao mesmo tempo, tão intenso!!! A música que eles fazem é simplesmente inclassificável. É preciso escutá-la. Chego a desfalecer. Amo.

sábado, 17 de maio de 2008

Bird girls can fly

Permitam-se conhecer Antony and the Johnsons e irão compreender definitivamente o que é sentir prazer com a dor. Nada de auto-mutilação, sadomasoquismo, amores platônicos e outras tentativas inúteis de preencher o vazio da existência castigando a si mesmo. Antony canta a dor em estado puro e doses cavalares, mas de um jeito redentor, que nos eleva e purifica o espírito. Feche os olhos e sentirá sua alma flutuando em águas mornas, após expurgar tudo aquilo que lhe aprisiona. É provável que algumas lágrimas invadam seu rosto. Mas logo darão lugar a um sorriso brando, que se abrirá como as asas de um pássaro.
Duvidam? Pois Antony fez Lou Reed chorar quando ouviu pela primeira vez a versão que ele fez para Candy says, gravada em seu álbum de estréia – lançado em 2003, levando o nome da banda. A música foi composta pelo líder do Velvet Underground em homenagem a Candy Darling - uma drag star, musa de Andy Warhol, que morreu em 1974 em decorrência de leucemia e AIDS. A partir daí, Lou Reed passou a considerar o cara como o legítimo herdeiro das dores e sofrimentos vividos por quem conheceu o espírito pré-punk e o convidou para participar do álbum The Raven, também de 2003, reinterpretando Perfect Day. Em retribuição, Antony estampou na capa e encarte do seu segundo disco uma foto de Candy Darling com maquiagem impecável e em seu melhor vestido, aguardando a morte iminente num leito de hospital.
Diria que este CD, entitulado I´m a bird now, é uma das coisas mais belas e extraordinárias que eu já ouvi. Foi com ele que Antony arrebatou o Mercury Prize 2005 – mais prestigiado prêmio da música britânica, que privilegia a originalidade e criatividade em detrimento de resultados comerciais - desbancando concorrentes como Coldplay, Kaiser Chiefs e o favorito, The Killers. O disco é repleto de participações especiais, a começar pela do próprio Lou Reed, na faixa Fistfull of love. Boy George, uma das maiores referências de Antony, também está presente, dividindo com seu discípulo a canção You are my sister, além de Rufus Wainright na adorável What can I do e do folk-místico Devendra Banhart em Spiralling.
A interpretação arrebatadora e a voz forte e rouca (ao mesmo tempo, doce e sensível) de Antony e a sutileza e refinamento dos arranjos (uma mistura inusitada de guitarra-baixo-bateria com cello, violino e sopros, além de uma deliciosa melancolia permeando cada acorde de piano) nos faz abstrair por completo a natureza transexual de quem está por trás desta obra-prima. Melhor ainda, uma vez tocados pela grandiosidade, generosidade e sinceridade artísticas de Antony, conseguimos compreender verdadeiramente e até dividir com ele o "fardo" que tanto o atormenta e inspira: a sensação de estar preso a um corpo masculino, com a alma ansiando por liberdade. Ouçam a última faixa do disco, entitulada Bird Gerhl. Com certeza, entenderão.