
Duvidam? Pois Antony fez Lou Reed chorar quando ouviu pela primeira vez a versão que ele fez para Candy says, gravada em seu álbum de estréia – lançado em 2003, levando o nome da banda. A música foi composta pelo líder do Velvet Underground em homenagem a Candy Darling - uma drag star, musa de Andy Warhol, que morreu em 1974 em decorrência de leucemia e AIDS. A partir daí, Lou Reed passou a considerar o cara como o legítimo herdeiro das dores e sofrimentos vividos por quem conheceu o espírito pré-punk e o convidou para participar do álbum The Raven, também de 2003, reinterpretando Perfect Day. Em retribuição, Antony estampou na capa e encarte do seu segundo disco uma foto de Candy Darling com maquiagem impecável e em seu melhor vestido, aguardando a morte iminente num leito de hospital.

Diria que este CD, entitulado I´m a bird now, é uma das coisas mais belas e extraordinárias que eu já ouvi. Foi com ele que Antony arrebatou o Mercury Prize 2005 – mais prestigiado prêmio da música britânica, que privilegia a originalidade e criatividade em detrimento de resultados comerciais - desbancando concorrentes como Coldplay, Kaiser Chiefs e o favorito, The Killers. O disco é repleto de participações especiais, a começar pela do próprio Lou Reed, na faixa Fistfull of love. Boy George, uma das maiores referências de Antony, também está presente, dividindo com seu discípulo a canção You are my sister, além de Rufus Wainright na adorável What can I do e do folk-místico Devendra Banhart em Spiralling.
A interpretação arrebatadora e a voz forte e rouca (ao mesmo tempo, doce e sensível) de Antony e a sutileza e refinamento dos arranjos (uma mistura inusitada de guitarra-baixo-bateria com cello, violino e sopros, além de uma deliciosa melancolia permeando cada acorde de piano) nos faz abstrair por completo a natureza transexual de quem está por trás desta obra-prima. Melhor ainda, uma vez tocados pela grandiosidade, generosidade e sinceridade artísticas de Antony, conseguimos compreender verdadeiramente e até dividir com ele o "fardo" que tanto o atormenta e inspira: a sensação de estar preso a um corpo masculino, com a alma ansiando por liberdade. Ouçam a última faixa do disco, entitulada Bird Gerhl. Com certeza, entenderão.
11 comentários:
Puxa... acho que já disse isso... mas vale repetir: você escreve muuuito bem. Em alkguns momentos temos a impressão de ao ler tuas frases estarmos ouvindo a canção de que fale, mesmo que nunca antes tenhamos escutado a coisa em questão... não sei me fiz entender, mas é isso.
Poxa, que gracinha. Bondade sua, Marcos :)
Que lindo Silvana. Realmente, vc disse tudo e com lindas palavras.
Bjos.
já está virando lugar comum dizer o quão é bonita a sua forma de escrever. Eu particularmente adoro. Infelizmente, não tenho coragem de escrever sobre música, depois que casei com Franscisco. Aliás, o padrão ficou muito alto. (Brincadeirinha).
silvana,
valeu teu comentário lá no blog do teclas...baixa o disco, v o q c acha das minhas pequenas extravagãncias.
GLAUBER
Li seu comentário lá no blueseveryday e vim conferir o Jean Michel, mais convencido pelos seus argumentos e menos pela curiosidade, você escreve muito bem mesmo, como disse Corbari agente lê com os ouvidos, me tornarei leitor do seu blog. Saúde e um abraço.
nao, nao róla ao vivo, foi só gravar mesmo. abraço pra maurão!!!
aah, esquece o "~", e fica com "extravagâncias" com "^"...como digitador, sou ótimo compositor...
GLAUBER
Oi, tente no Ares. Obrigado pela dica do Last FM. Abs
P.S: I'm a bird now é um belo disco. Grande indicação!
como não ficar entusiasmada pra escutar os sons que vc recomenda? não vou comentar o jeito que escreve pq ja falaram demais neh? rs! pois vamos escutar!! bjão!
É lindo mesmo... Bjs
Já ouvi esse cara intermináveis vezes. É demais mesmo.
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