segunda-feira, 13 de julho de 2015

Plantando coqueiros em meio ao caos

O dia amanhece no Jardim de Alah. Carros passam apressados, buzinas gritam histéricas. Este senhor, no entanto, consegue abstrair por completo aquela situação de caos ao redor, escolhe o exemplo dos coqueiros e, em plena calçada, permanece como eles, durante todo o tempo em que o trânsito, travado, me permite observá-lo. Talvez assim, de cabeça pra baixo, o mundo realmente faça mais sentido...

Quem quiser saber mais sobre esse ser tão intrigante, é só dar uma olhada nesse vídeo postado no youtube, no qual há imagens sensacionais e entrevista com o próprio.

sábado, 11 de julho de 2015

O `Choro do Uirapuru´ e a sensação de unicidade

Assisti ao espetáculo "Choro do Uirapuru & Perfilino Neto”, apresentado dia desses no Teatro do Irdeb com entrada franca. Saí de casa pra assistir a um show de choro, mas a beleza, a sinceridade e a entrega que vi naquele palco me fizeram viver muito além de uma experiência musical. Pela primeira vez na vida, senti a sensação de unicidade em cada um dos meus poros. Não me via mais como Silvana Malta. A sensação de “eu”, que me separa do “outro”, simplesmente desapareceu, e me reconheci em absolutamente tudo ao meu redor. Na alegria e na leveza de Ana Tomich (voz e pandeiro). No dedilhar cortante de Carlos Chenaud (violão de 7 cordas). Na emoção contida de Perfilino Neto (radialista, com 52 anos de profissão e vasto conhecimento sobre o choro, que narrou histórias fascinantes sobre o gênero nos intervalos entre as canções). Na moça obesa que sentou ao meu lado com muita dificuldade porque as poltronas eram estreitas demais pra ela. Na criança inquieta com chapéu panamá. Nos compositores e intérpretes já falecidos que eram exibidos em fotografias projetadas ao fundo do palco enquanto suas músicas eram ali tocadas. No adolescente que entrou em crise (autismo?) durante a apresentação e precisou sair. Na senhora que o acompanhou. Em "Seo" Cacau (Carlos Cruz, pandeirista do grupo "Os Ingênuos”, principal responsável pelo movimento de choro em Salvador), que foi homenageado ao final e convidado a tocar. Nossa... "Seo" Cacau, um senhor já bem idoso, parecia um menino serelepe no palco, tamanha era sua empolgação. Ele e o pandeiro também eram um só naquele momento. Na saída, com uma sensação imensurável de gratidão, caminhei pelo Irdeb e me vieram imagens e sensações de quando trabalhei ali há exatos 20 anos, como repórter estagiária da TVE. A lembrança mais forte foi a da ansiedade que sentia na época, ansiedade que vinha do medo de não conseguir me destacar profissionalmente, de não vir a ser “alguém”. E aí me senti ainda mais grata! Porque, 20 anos depois, eu estava ali, naqueles mesmos corredores, me sentindo imensamente feliz justamente por não ser “ninguém”, por ter me libertado desta armadilha do meu ego, por todas as escolhas que fiz na vida e que me levaram até aquele show, tendo aquelas percepções sobre as quais tentei escrever agora.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Rabino Súcia, a terceira pergunta e o processo de ampliação da consciência

O rabino Súcia passou a vida inteira ensinando sobre o viver e o morrer. O tempo foi passando, ele ficou muito doente e, desde então, passou a apresentar um comportamento estranhamente introspectivo. Seus discípulos, preocupados, tomaram coragem e resolveram questioná-lo:
- Rabino Súcia, o senhor está com medo da morte?
E ele respondeu:
- Da morte propriamente, não. Mas tenho medo da terceira pergunta.
- Da terceira pergunta? O que isso significa?
- É que, quando se morre, vem uma luz. E, dessa luz, uma voz, que é a voz de Deus. E ela vai me perguntar: “Rabino Súcia, por que você não foi tão sábio quanto Salomão?”. Será a primeira pergunta e essa eu saberei responder: porque eu não sou Salomão.
- A segunda pergunta será: “Rabino Súcia, por que você não foi um grande conquistador como Alexandre, o Grande?”. A essa pergunta, eu também saberei responder: porque eu não sou Alexandre, o grande.
- E então virá a terceira pergunta: “Rabino Súcia, por que você não foi Súcia?”
Essa história foi contada dia desses pelo professor de Filosofia da Ufba, José Antonio Saja, durante uma defesa de dissertação sobre `o processo de ampliação da consciência´ (de autoria da terapeuta Flávia Nunes, no Mestrado Profissional Multidisciplinar em Desenvolvimento Humano da Fundação Visconde de Cairu) na qual ele fez parte da banca examinadora. “Ou seja, por que Saja não é simplesmente Saja? Eu não preciso ser como Salomão ou `Alexandre, o Grande´, mas é meu dever essa ampliação da consciência do EU SOU. Sem isso, não podemos enfrentar o desafio de transformar o mundo”, enfatizou.
Para ele, a dissertação apresentada contribui para esse um novo tempo, um novo paradigma na produção do conhecimento. “Percebo que esta tese é proveniente de uma vida, tem o coração e as digitais de quem a escreveu. E, principalmente, tem a pegada do risco, ao propor uma quebra das fronteiras, a integralidade. A ciência acumulou conquistas brilhantes ao longo dos séculos, mas de forma separada, compartimentalizada, o que criou um saci pererê. Está faltando a outra perna. Então vamos colocá-la! Esse é o movimento que fará com que a humanidade, finalmente, se reconheça”, completou.
Segundo a orientadora da dissertação e coordenadora do mestrado, Maribel Barreto, a fala de Saja mostra que, apesar dos estudos sobre consciência não serem algo recente, estamos vivendo uma nova fase, pois nunca se teve tanta abertura para tratar de consciência no meio acadêmico. “Temos que aproveitar essa onda. Não temos como evitá-la. Ela já está aí e nos envolve em suas diversas camadas. Temos que surfar em sua crista. Mas, para isso, também temos que lidar com a sua profundidade, no qual corrermos riscos - porque mergulhar não é simples, pressupõe também a possibilidade de nos machucarmos nos corais submersos. É superioridade e inferioridade, nosso máximo e nosso mínimo, nossas fraquezas e nossas potencialidades. Estamos numa fase em que podemos enxergar tudo que ainda é limite, mas, ao mesmo tempo, com toda a nossa força”.