terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

If Sonic Youth was a Carpenter?

Dias angustiantes, esses. Vontade monstra de escrever sobre várias coisas aqui e uma pilha de trabalho que insiste em se fazer lembrar, gritando que eu não posso me dar a esse luxo neste momento. Com o relógio girando contra mim, só vai dar tempo mesmo de falar rapidinho sobre algo que me impressionou MUITO esta semana.

Conheci uma versão classuda e matadoura de “Superstar”, do Carpenters, feita pelo Sonic Youth, que coloca a original no bolso. Voz sussurante, clima envolvente, um convite à perdição. Responsável por um dos momentos mais marcantes do filme Juno (indie movie da temporada), a versão foi gravada há 14 anos como parte do disco “If I were a Carpenter” - tributo aos irmãos Richard e Karen, famosos nos anos 70 por suas baladas românticas. O disco não é grande coisa, mas esta faixa vale muito a pena. O videoclipe pode ser visto aqui.

E, falando em tributo, nomes como R.E.M., Pixies, Nick Cave and the Bad Seeds e Ian McCulloch (vocalista do Echo & the Bunnymen) se juntaram em 1991 para reverenciar o legado de Leonard Cohen com o disco “I´m your fan”. Entre as canções, estão “So long Marianne”, “I Can´t Forget”, “Chelsea Hotel”, “First we take Manhatan”, “Who by fire”, “Hey, that´s no way to say goodbye” e “Hallelujah”. Releituras bem interessantes, mas nada que possa ser comparado à interpretação sepulcral do grande mentor folk.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Vinho agridoce

Conheço algo que pode te interessar. Coisa fina. Uma mistura de horas mortas, dias pintados de chumbo, gatos à noite nos telhados, lágrimas negras de noites insones, sorriso arrancado como grama, sal que estanca a alma raptada, saudade que estraçalha serenidade, ódio espesso mantendo a calma, vozes ecoando nas estantes, palavras feito encruzilhadas. Junto à poesia contida nesses versos, doses ideais de guitarras dissonantes e com múltiplos efeitos, linhas de baixo navegando em maremotos sem perder o prumo, bateria trovejante e uma voz rasgada, verdadeira e singular. Tudo isso embebido em melodias inspiradas, daquelas que parecem ter nascido conosco, que despertam identificação imediata com algo adormecido, como se já as conhecéssemos de outros mundos. É isso. Apresento-lhes meu entorpecente favorito. Um brinde à Theatro de Seraphin.

Formada por Artur Ribeiro (voz/guitarra), Cézar Vieira (guitarra), J. Wilquens Dantas (Bateria) e Marcos Rodrigues (baixo), a banda acaba de finalizar seu primeiro EP, que contou com a produção de Jera Cravo (Lou) e cujo lançamento oficial pelos selos Big Bross e Atalho Discos acontecerá agora em março, possivelmente na Boomerangue (Rio Vermelho). As seis canções que compõem a obra - "Sombras Chinesas", "Cólera", "Doze por Oito" (predileta desta que vos fala) , "Doralice", "Súbito" e "Tristeza" - no entanto, já estão disponíveis para download na página da banda na Trama Virtual, onde também se encontram outras cinco músicas ("Nada a Fazer", "Arqueiro Cego", "Dionísio", "Na Rota das Estrelas Cadentes" e "Tempestades Risonhas") gravadas no período da primeira formação, que contava com Candido Soto (Cascadura e Banda de Rock) na guitarra. As demais canções registradas nesta fase, a exemplo de "O Mágico de Oz" (com participação da cantora Danny Nascimento) e "Na solidão dos Campos", serão disponibilizadas no mesmo site em breve.

Na ativa há quatro anos, a Theatro já se consolidou como uma das principais bandas de rock alternativo de Salvador devido à competência, talento e determinação de seus integrantes. As apresentações, sempre marcadas pela visceralidade e um certo clima noir, têm atraído um público fiel e chamado a atenção dos desavisados. A banda ficou entre as cinco finalistas da seletiva baiana para o festival Claro que é rock, realizada em 2005 na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, onde dividiu o palco com a banda inglesa Placebo . Também abriu um show de Marcelo Nova no Rock in Rio Café no mesmo ano, juntamente com a banda Koyotes, e participou de diversos festivais locais, sendo o mais recente o Boom Bahia Festival. Apresentou-se ainda em eventos de rock no interior do estado, a exemplo de Bom Jesus da Lapa, Camaçari e Santo Antonio de Jesus.

Com influências de bandas como Doors, Joy Division, Echo & the Bannymen, Smiths e Smashing Pumpkins, utilizadas de forma pessoal e contemporânea, a Theatro traz ainda vestígios inevitáveis da experiência de seus membros em trabalhos anteriores, a exemplo da Treblinka e Cravo Negro (Artur Ribeiro), Brincando de Deus (Cezar Vieira) e Via Sacra (Marcos Rodrigues). A próxima sessão desse vinho agridoce, com direito à músicas novas como "A mente Dança", "Passaporte Mouro", "Atlântico Sul" e a sensacional "Pânico", está marcada para sábado (dia 23), a partir das 18h, na praça Tereza Batista (Pelourinho), onde vai estar rolando a Feira Hype Itinerante, com participação de Vandex e Los Canos. Convite feito, agora é contigo. Embriague-se!!!
Fotos: Lia Seixas






terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Mais que uma soma

É. Coisas acontecem. Estava eu, um dia desses, por acaso, na página de recados de Artur Ribeiro no Orkut, quando me deparei com uma singela imagem da violoncelista carioca Fernanda Monteiro e do músico e produtor baiano Luisão Pereira, feita pela fotógrafa Mbeni Waré. Fernanda, em primeiro plano, abraçada ao seu violoncelo. Luisão, um pouco atrás, acompanhado de uma guitarra. No fundo, uma parede laranja, com uma luz maravilhosa, e ambos com um semblante sereno, típico de quem ajudou a lapidar o mundo, doando o que se tem de melhor.

A imagem era um link para a página no myspace do Dois em Um – projeto belíssimo desenvolvido em casa pela dupla, que costumo definir como melancolia passeando do céu, suspensa por delicados balões de gás. Fernanda surpreendeu a todo mundo, inclusive a si mesma, quando assumiu os vocais e descobriu que, além de dar vida ao cello, podia tocar o coração das pessoas com sua voz macia, doce, suave, mas de muita personalidade, e seu jeito tímido e meigo de cantar, que já lhe renderam comparações à musa da Bossa Nova, Nara Leão. Já Luisão, que também participa com voz, se encarregou dos arranjos e da execução de todos os instrumentos, incluindo guitarras, baixo, violão teclados e programações.

O projeto já conta com cinco músicas, duas delas feitas unicamente por Luisão e outras três em parceria com o compositor e músico Mateus Borba. As canções evocam influências diversas, que vão de Radiohead a João Gilberto, passando por Andrew bird, Stereolab, Massive Attack, Kings of Convenience, Cocorosie, Paris Combo, Air, Belle and Sebastian, Cat Power, Cibelle e Joana Molina, mas sempre com a marca bem pessoal do duo. Adoro todas elas, com destaque para “Eu sempre avisei” - uma mistura de Roberto Carlos com Portishead que me faz perder o ar; e para “E se chover?” - lançada recentemente e cujo arranjo, com direito a metais, xilofone e fanfarra, sem falar da melodia, coloca o Dois e Um no seu momento máximo até agora.

Considero a minha melhor descoberta de 2007. E sou grata a eles por isso.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Essa merece, e muito!

O segundo disco do Cascadura, "Entre", lançado em 1999, tem uma canção que me toca profundamente. Chorei na primeira vez que a ouvi. E assim acontece até hoje. Seu nome: "Mesmo sem merecer". E foi feita por Fábio (claro), tendo como inspiração o livro "O amor nos tempos do cólera", de Gabriel Garcia Marquez.
No último sábado, fui assistir ao show acústico dos caras no Tom do Sabor e voltei ainda mais feliz do que normalmente. Pela primeira vez, vi a música sendo executada ao vivo!!! A reconheci no primeiro acorde de piano, feito por Ricardo "Flash", que participou da gravação do disco. Não acreditei. Fiquei tão louca que quase me joguei do mezzanino!!!

"Posso te dizer como aprender com a solidão
Isso só porque resolvi descer da colina
Onde eu vivo só, cantando em tom menor
Só pro vento soprar pra você
E se a chuva vem, vem te fazer bem, é porque eu pedi
Com a minha canção eu peço ao senhor dos céus
Pra molhar você
Ele faz por amor ao ver minha dor
Em querer tanto bem
Mesmo sem merecer
Cá do alto eu posso até
Mandar o sol ir te queimar
Te sufocar com o tempo
Mas de que isso ia me valer?
Eu prefiro te ver celebrando com o vento
Os dias lindos que eu guardei par te dar
Sem sequer revelar
Que sou aquele que protege o seu lar
E o teu caminhar
O horizonte tem um verde
Que ninguém conseguiu repetir
Rosas pra você os espinhos eu trago
Nos olhos, na boca e nas mãos
É o que a mim restou
E até o fim eu vou
Ter que olhar por alguém que me fez perecer
Mesmo sem merecer"

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Limite Branco

Começo com um trecho do primeiro romance de Caio Fernando Abreu, um dos meus escritores brasileiros favoritos, escrito em 1967, quando ele tinha 18 anos. É denso e ingênuo ao mesmo tempo. Como a porção adolescente que ainda habita em mim : )))

"Não sei como me defender dessa ternura que cresce escondido e, de repente, salta para fora de mim, querendo atingir todo mundo. Tão inesperada quanto a vontade de ferir, e com o mesmo ímpeto, a mesma densidade. Mas é mais frustrante. Sempre encontro a quem magoar com uma palavra ou um gesto. Mas nunca alguém que eu possa acariciar os cabelos, apertar a mão ou deitar a cabeça no ombro. Sempre o mesmo círculo vicioso: da solidão nasce a ternura, da ternura frustrada a agressão, e da agressividade torna a surgir a solidão. Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim".

E por que não?

Como diria Oscar Wilde, resisto a tudo, menos às tentações. E a vontade de ter um troço desses, pra compartilhar com as pessoas que passarem por aqui coisas que despertaram em mim a sensação de encantamento ou acolhimento, vinha crescendo dia após dia. Então aqui está:)