sábado, 11 de julho de 2015

O `Choro do Uirapuru´ e a sensação de unicidade

Assisti ao espetáculo "Choro do Uirapuru & Perfilino Neto”, apresentado dia desses no Teatro do Irdeb com entrada franca. Saí de casa pra assistir a um show de choro, mas a beleza, a sinceridade e a entrega que vi naquele palco me fizeram viver muito além de uma experiência musical. Pela primeira vez na vida, senti a sensação de unicidade em cada um dos meus poros. Não me via mais como Silvana Malta. A sensação de “eu”, que me separa do “outro”, simplesmente desapareceu, e me reconheci em absolutamente tudo ao meu redor. Na alegria e na leveza de Ana Tomich (voz e pandeiro). No dedilhar cortante de Carlos Chenaud (violão de 7 cordas). Na emoção contida de Perfilino Neto (radialista, com 52 anos de profissão e vasto conhecimento sobre o choro, que narrou histórias fascinantes sobre o gênero nos intervalos entre as canções). Na moça obesa que sentou ao meu lado com muita dificuldade porque as poltronas eram estreitas demais pra ela. Na criança inquieta com chapéu panamá. Nos compositores e intérpretes já falecidos que eram exibidos em fotografias projetadas ao fundo do palco enquanto suas músicas eram ali tocadas. No adolescente que entrou em crise (autismo?) durante a apresentação e precisou sair. Na senhora que o acompanhou. Em "Seo" Cacau (Carlos Cruz, pandeirista do grupo "Os Ingênuos”, principal responsável pelo movimento de choro em Salvador), que foi homenageado ao final e convidado a tocar. Nossa... "Seo" Cacau, um senhor já bem idoso, parecia um menino serelepe no palco, tamanha era sua empolgação. Ele e o pandeiro também eram um só naquele momento. Na saída, com uma sensação imensurável de gratidão, caminhei pelo Irdeb e me vieram imagens e sensações de quando trabalhei ali há exatos 20 anos, como repórter estagiária da TVE. A lembrança mais forte foi a da ansiedade que sentia na época, ansiedade que vinha do medo de não conseguir me destacar profissionalmente, de não vir a ser “alguém”. E aí me senti ainda mais grata! Porque, 20 anos depois, eu estava ali, naqueles mesmos corredores, me sentindo imensamente feliz justamente por não ser “ninguém”, por ter me libertado desta armadilha do meu ego, por todas as escolhas que fiz na vida e que me levaram até aquele show, tendo aquelas percepções sobre as quais tentei escrever agora.

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