terça-feira, 9 de setembro de 2008

Devaneios sobre o tempo

Um homem observa da janela uma paisagem totalmente coberta de neve, quando percebe ao longe um chapéu vermelho contrastando com a imensidão branca. A presença inusitada daquele objeto lhe desperta uma enorme e imediata curiosidade. “A quem será que ele pertence? Como foi parar ali?”, pergunta-se enquanto cede à irresistível tentação de chegar mais perto. Já com o chapéu nas mãos, vê, mais adiante, uma moça caminhando apressadamente em direção a uma casa isolada no alto de uma colina. “É ela”, pensa. “A linda moça de cabelos castanhos e olhos de chuva que encontrei outro dia na vila, lendo cartas antigas numa feita de antiguidades”. Ele tem alguns segundos pra decidir o que fazer. Segue a mulher para devolver-lhe o chapéu? Leva-o pra casa e o oferece de presente a alguém especial? Deixa-o ali mesmo, no chão, sem interferir em seu destino?
Calma, isso não é um teste de ética. É só algo para fazer pensar sobre as infinitas possibilidades que a vida oferece o tempo todo, a cada momento em que temos que tomar decisões, por mais simples que pareçam, e que podem determinar todo o nosso futuro. Se o homem escolhesse entregar o chapéu, a moça poderia, em sinal de gratidão, oferecer-lhe uma xícara de chá, marcando o início de um tórrido romance. Caso o levasse pra casa e o oferecesse à mulher com quem vive há 19 anos, poderia lhe causar tamanha surpresa e emoção, ao ponto de fazê-la olhá-lo novamente como na época em que se conheceram, evitando, assim, o fim do casamento. E, na hipótese de deixar o chapéu no lugar onde achou, poderia estar dando a chance de uma outra pessoa encontrá-lo e devolvê-lo, alguém que viria a ser o grande amor da moça, como aqueles que ela fantasiava, quando lia as cartas.
Agora imagine se houvesse um mundo em que nós não precisássemos escolher, onde todas estas situações acontecessem de forma simultânea, em dimensões paralelas. Nós nunca precisaríamos nos perguntar sobre como teria sido a nossa vida se tivéssemos escolhido esse ou aquele caminho porque teríamos percorrido todos. Não existiria ansiedade nem arrependimento. Agora eu pergunto: quem garante que isso realmente não acontece? que nós não vivemos simultaneamente em várias dimensões? Vai ver que apenas não nos lembramos das múltiplas experiências que temos... Pensar nessas coisas, nos mistérios do tempo e do espaço, é, no mínimo, perturbador, não? Mas é algo que adoro fazer, principalmente depois que li uma obra de ficção chamado Sonhos de Einstein, do escritor/astrofísico norte-americano Alan Lightman.
O livro é voltado muito mais para a capacidade de cada leitor de imaginar o tempo do que para a figura de Albert Einstein. São 30 capítulos, com três páginas cada, escritos em forma de minidiário. Neles, o autor imagina sonhos incomuns que o jovem cientista teria tido em trinta noites seguidas, após registrar patentes e trabalhar em teorias. Nestes sonhos, verdadeiros poemas em prosa, o tempo pode ser circular, descontínuo, lento. Pode andar para trás, tomar a forma de um rouxinol, ser percebido através das sensações e transcorrer todo num único dia - nascimento, vida e morte. Uma leitura leve e agradável, apesar do conteúdo inquietante, que nos faz pensar no que poderá ser realmente O Tempo e cujos capítulos nos oferecem mundos credíveis, nem que seja no universo onírico.

4 comentários:

i just say the true disse...

Dimensões paralelas...hum..Hj essa hipótese inquieta minhas certezas... e as lembranças percorrem estas tais dimensões( quem tem por objetivo serem benéficas..e só!) e me aliviam das escolhas tão difíceis... sensações podem ser eternas? sim..todavia, são ocilantes. Relaxemos então... que as dimensões tenham sensações provocadas por sentimentos efemeros: e que o sentimento desenvolva de acordo com essas sensações.. pro bem eh claro!

Fernandamonteiroc disse...

nossa, há pouco li sobre um acelerador de partículas milionário que construíram na suiça e chego aqui leio sobre tempo-espaço! será isso um sinal de alguma coisa? ;)

Silvana Malta disse...

Hehehehe, as meninas entraram na viagem, rsrs

Zanna Santos disse...

"Ignorar a voz interior que suscita os sonhos é transcorrer-se pela história numa busca eterna de si mesmo" (Zanna Santos. Seu texto me fez parar e pensar! O que seria da vida sem as escolhas... Dela seríamos apenas os protagonistas.
Bjs abaianados sempre!